Receita de Bem Viver,
de Luis Carlos Osório:
Atenção para os ingredientes,
À disposição de todas as gentes
No botequim da boa vontade,
Logo ali, na esquina de qualquer idade:
Uma gamela de afeto
Duas xícaras de seu talento predileto.
De bom humor, um panelão
E uma tigela quente de paixão.
Colheres muitas, e cheias, de tolerância
Para com os seus e alheios defeitos.
Um copo de juízo pra dar "sustância"
E outro de garra por seus direitos.
Abundante coragem para a porfia
E alguma picardia.
Dois dedos de prosa amiga
Numa caçarola de saudade bem antiga.
Uma pitada de surpresa diante de cada dia que passa.
De orgulho apenas uma colher rasa
(o suficiente para não desandar a massa),
Mas de confiança toda, toda que houver em casa.
Alegria à vontade !
Agora tome-se a idade que se tem
(que invejar a dos outros não convém)
E num recipiente untado de amor
Leve tudo ao mais humano calor,
Tendo em conta ser de maior conveniência
Nunca entornar o caldo da paciência.
Importante é dosar bem porvir e outrora
Para que se encontre a exata consistência de agora,
Na qual certamente não há de faltar
Alguém a quem se possa ofertar
Muitos dengues e ternura
Antes de entrar em ebulição a mistura
E quando o andor da vida nos ponha em fogo brando
É hora de alcançar o tempero da sabedoria
E de cordial amizade ir polvilhando
Uma larga travessa de bonomia
Sirvam-se, então, vastas porções
Quando o aroma chegue aos corações;
E tendo por música de fundo
Um amor antigo e profundo
Beba um cálice de gratidão
Pelos anos que foram e pelos que virão.
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