O transtorno de ansiedade de separação acomete cães de todos os tamanhos, idades, raças ou misturas. Quando não é diagnosticado ou tratado, leva a família e o cão a conviverem com montanhas de estresse, que geralmente resultam em punições para o cachorro, em alguns casos passado adiante ou até mesmo abandonado.
Luto com este problema aqui em casa com o Shoyo desde 2010 e, para minha surpresa, a
Java já chegou na família apresentando ansiedade de separação. Com algumas medidas, nossa convivência tem sido muito melhor, com menos sofrimento para eles quando eu saio de casa e, consequentemente, para mim.
Sobre esta questão, de um animal adotado (a Java) e/ou adulto (o Shoyo) passar a apresentar ansiedade de separação, compartilho com vocês um trecho de um e-mail que a Cassia Santos me escreveu, quando soube das coisas aqui em casa:
“Olha a informação que consta do livro ‘Problemas comportamentais do Cão e do Gato’, do Landsberg, sobre ansiedade de separação:‘... estudos têm indicado que há significativamente mais cães mestiços, adotados (provenientes de sociedades humanitárias) e acima de 10 anos de idade que apresentam esse problema’.
Acredito que isto deva ter um fundo de verdade, especialmente considerando dois fatores: o histórico de vida destes peludos e as atitudes daqueles que os adotam, muitas vezes tentando compensar todo o sofrimento com MUITO carinho e atenção O TEMPO TODO...”
Pensando na importância do tema propus a quatro educadoras caninas um desafio: escrever a oito mãos um post completo sobre ansiedade de separação. Para minha felicidade, as quatro concordaram e abaixo você acompanha o resultado. Esperamos, nós cinco, que os textos sejam úteis a muitas famílias que convivem com cães que desenvolveram o problema. É essencial que as pessoas percebam que têm papel fundamental tanto na cura, quanto na causa da ansiedade de separação. Boa leitura!
ps: Ao fim dos textos coloquei um vídeo que achei muito legal da
Cláudia Estanislau, educadora canina portuguesa, dando uma dica super útil de petisco para distrair nossos filhos de patas!
Ansiedade de separação em cães
Causas e sintomas.
Por Cassia Santos, do blog
Cão Amor
O cão é um animal social, assim como o ser humano. Seu instinto lhe diz que, para estar seguro, deve viver junto ao seu grupo, o que lhe garantirá a sobrevivência. Quando seu grupo de "humanos" sai e o deixa sozinho, a sensação que o bichinho tem, instintivamente, é de que sua sobrevivência está ameaçada. Ele simplesmente não entende que nada acontecerá e que a situação durará pouco tempo. Sob o prisma do cão, ele está sendo abandonado.
Além de já estar arraigado em seus institntos que não é bom estar só, muitos cães são extremamente apegados aos donos. Isto ocorre muitas vezes em razão do temperamento do cão, mas também por atitudes do dono, que incentiva e gosta de ter o seu pet sempre por perto, muito perto.
Essas pessoas, em geral, acabam criando situações das quais nem se dão conta: demonstram, de forma enfática, que sentem dó do companheiro e se despedem dele efusivamente ao sair de casa. Evidentemente que o cão passará a perceber os mínimos sinais toda vez que o dono for sair e a ansiedade se instalará já a partir deste momento... Ou ainda, chamam o cão o tempo todo para estar ao seu lado, mesmo que ele esteja em seu cantinho roendo um osso.
Por outro lado, existem também alguns outros fatores que podem deflagrar a chamada síndrome da ansiedade de separação: mudança abrupta na rotina do cão (exemplos – dono estava em férias, ou passava mais tempo em companhia do peludo e, de repente, passa a se ausentar mais; mudança de casa; perda ou chegada de um novo membro da família que altere a rotina do peludo).
Mas, e como identificar que o cãozinho está, efetivamente, sofrendo de ansiedade de separação? Se um ou mais dos comportamentos a seguir discriminados se mostrar presente, certamente serão necessárias providências para tratamento deste distúrbio comportamental tão comum (infelizmente), hoje em dia:
- o cão começa a, nitidamente, ficar nervoso ao constatar os sinais de que a família irá se ausentar (troca de roupa, pegar bolsa, chaves do carro etc.);
- o cão late, uiva ou chora insistentemente quando está sozinho (em geral, a família toma conhecimento do fato por reclamações/comentários dos vizinhos);
- o cão adota comportamentos destrutivos quando sozinho, como arranhar portas e batentes, destruir objetos da casa como controles remotos, almofadas;
- o cão saliva excessivamente, podendo ser encontrada uma verdadeira poça em casa quando a família retorna;
- o cão fica apático, não come, não bebe água nem faz as necessidades, só tendo ânimo para estas atividades quando do retorno do dono;
- o cão se auto-mutila como, por exemplo, lambendo as patinhas até se formarem feridas.
Como evitar a ansiedade de separação, cuidados desde filhote.
Por Franciele Lima, do site
Cão Obediente
Agora que já você já sabe quais as causas e os sintomas da ansiedade de separação, você precisa saber como ensinar o filhote a ficar sozinho em casa tranquilamente.
Assim que o filhote chegar no novo lar o ideal é estabelecer um local em que ele possa passar algumas horas do dia, como um cercadinho, ou separar um cômodo da casa só para ele. Tem que ser um local confortável, com sua caminha, alguns brinquedos, água e o jornal para as necessidades do outro lado (longe do resto).Nunca use esse local como castigo e sim para que o filhote possa descansar e ficar em segurança sempre que você sair.
Antes de colocar o filhote no local estabelecido brinque com ele, jogue bolinha etc. Se ele estiver cansado, logo irá dormir após sua saída. É importante ignorar o filhote se ele estiver fazendo bagunça, latindo ou “chorando” para que esses comportamentos não sejam recompensados, espere até ele ficar quieto e elogie pelo comportamento (de estar quieto).
Ao sair de casa procure não estimular a ansiedade do filhote, saia tranquilamente. Quando chegar em casa não faça muita festa, provavelmente o filhote estará ansioso com sua chegada, espere alguns minutos até que ele se acalme para lhe dar atenção.
Ao entrar em cômodos da casa, feche a porta ao passar, não deixando que o filhote te siga pela casa o tempo todo. Estimule sua independência: deixe alguns brinquedos interessantes para que ele brinque sozinho.
Você precisará de paciência para ensinar o filhote a ficar sozinho tranquilamente, mantenha a calma e seja consistente no treinamento.
Como tratar
Por Emmanuelle Moraes, do blog
Educadora Canina
Abaixo ficam algumas dicas de como trabalhar o seu cão para que aprenda a ficar só e diminuir a ansiedade.
Ensinando o cão a ser mais independente
É muito importante que o seu cão aprenda a ser mais independente de você. Este é um ponto crucial do tratamento da síndrome de ansiedade por separação.
Para tanto, inicie as seguinte medidas:
Não dê atenção para o animal quando ele pedir e sim quando você iniciar a interação. E, antes disso, peça sempre ao cão que execute algum exercício (sentar, dar a pata, deitar etc.) para só então começar a interagir.
Defina horários para a refeição do cão e ajuste de maneira que coincidam com a hora da sua partida, desta forma ele terá algo para se entreter neste momento e, provavelmente, de “barriga cheia” tenderá a dormir. Aproveite para colocar a comida em “brinquedos dispensadores de alimento”, tais como o
Kong, ou para fazer “esconderijos” para a comida e/ou “caminhos” que indiquem onde fica o restante do pote.
Acostume o seu cão a ficar sozinho mesmo quando você estiver em casa. É importante que você comece este exercício de forma bem “fraca” e aumente o tempo de forma gradual, conforme ele apresente resultados positivos no tempo anterior. Se você evoluir antes da hora (e exagerar no tempo) tenderá a por tudo a perder. Comece fechando as portas da casa quando passar por elas, de maneira que o peludo não possa entrar junto de você, por exemplo: se vai ao banheiro, cozinha e quarto, passe e feche a porta sem que o animal entre junto no cômodo. Com a porta fechada, conte até 5 e saia do recinto. Comece a fazer isso em toda oportunidade que encontrar pela casa. Não fale com o animal ao entrar, nem após sair, apenas continue a sua rotina. Com o tempo, vá aumentando o tempo em que permanece dentro do cômodo isolado do cão, por exemplo: 5 segundos, 10 segundos, 20 segundos, 1 minuto...
Ensinando a ficar calmo quando sozinho. Quando obtiver evolução considerável no exercício anterior, inicie o seguinte exercício:
Quando estiver em casa, coloque o cão em outro cômodo da casa ou na caixa de transporte e ofereça um delicioso
Kong recheado. Deixe que ele permaneça lá com o brinquedo e aguarde por 5 a 10 minutos e então libere o cão de maneira que, se ele desejar, possa sair de lá. Isso requer ter timming para que o cão seja liberado antes de começar a latir ou arranhar a porta.
Não fale com o seu cão quando for sair de casa ou quando for chegar. Não lhe dê “tchau!”, muito menos “oi!” quando tiver que sair ou chegar. Falar com o cão, dar-lhe carinho, responder a um “choramingo” só faz com que o seu animal fique ainda mais ansioso. Este é um ponto onde há grande resistência por parte dos tutores, que consideram que seguir tal orientação fará com que o animal se sinta menos “amado” ou então, deixado de lado. Seguir a orientação acima não fará com que o seu cão sinta-se rejeito, mas fará com que diminua a sua ansiedade, e consequentemente, com que sofra menos com esse problema.
Seu cão (mesmo você acreditando que sim) não entende o conteúdo da sua explicação como um humano (“Mamãe vai sair e já volta, tá?”), mas percebe claramente que algo que ele não gosta (você sair de casa/ficar sozinho) está por acontecer e, desta forma, a ansiedade (objeto maior do problema comportamental em tela) só tende a aumentar. O mesmo acontece quando o tutor chega em casa e faz festas com o cão, que já se encontra em estado de “euforia” e que termina sendo recompensado.
Crie uma associação positiva com a sua saída. Quando for sair de casa ofereça um
Kong recheado ou um
osso recreacional para o seu cão, criando uma associação positiva com a sua saída. De preferência use algo específico para esse momento que não será usado em nenhuma outra ocasião do dia. Pode ser um recheio especial para o Kong que só será usado na hora da saída do tutor, por exemplo, ou um brinquedo/osso que é recolhido depois de sua chegada. Independente de o animal ter comido todo o recheio, quando chegar em casa você deverá retirar a recompensa e guardar para só ser usada durante sua ausência.
Quebrando a rotina das saídas. Todos possuímos certos “rituais” antes de sair de casa que, embora nem estejamos conscientes deles, os cães os conhecem perfeitamente. Por exemplo, antes de sair tomamos banho, escovamos os dentes, passamos perfume, acendemos algumas luzes, trocamos a água do cão etc. Sendo assim, identifique tais hábitos que executa antes da partida e desmembre-os completamente. Passe o perfume e ligue a TV. Pegue as chaves e vá comer algo. Segure a bolsa e deite na cama. Vista a roupa e vá fazer o café. A intenção é confundir o cão quanto ao exato momento da saída e fazer também com que ele diminua a ansiedade ao ver que, mesmo tendo pego as chaves, o tutor não saiu mas sim, foi ver TV, lavar roupa etc.
Outras medidas a ser consideradas:
Atividade física diária: indicado também antes da saída dos tutores
Deixar o cão em um Day Care (creche canina)
Enriquecimento ambiental
Não brigar com o cão pelas coisas que tenha destruído ou pela sujeira que tenha feito durante a ausência.
A importância de atividades e enriquecimento ambiental
Por Sara Favinha, da equipe
Tudo de Cão
Uma ferramenta muito útil para auxiliar na melhora do quadro de ansiedade de separação é o Enriquecimento Ambiental, que é a criação de um ambiente mais complexo e interativo, promovendo desafios e novidades, oferecendo oportunidade de escolha ao cãozinho. Os animais na natureza estão constantemente em busca de alimento, água, território, disputas pelo parceiro sexual, abrigo, evitando predadores etc. e devemos lembrar que nossos cães também possuem necessidades de gasto energético, mental e físico. O acúmulo de energia e a falta de desafios no dia-a-dia levam os cães ao desequilíbrio.
Como fazer Enriquecimento Ambiental para meu cãozinho?
Existem muitos brinquedos hoje feitos especialmente para isso, por exemplo a linha de brinquedos da
Kong, o Buster Cube, Kong
Wobler, a
Dog Pyramid e diversos quebra-cabeças, como
Dog Tornado e a linha de brinquedos
PetGames.
Você também pode oferecer a comida de uma forma mais interessante, como por exemplo dentro de uma toalha dobrada várias vezes, escondida pela casa,
espalhada na grama, dentro de uma garrafa pet com furos etc.
Ossinhos também são super recomendados para aliviar o estresse do seu bichinho quando você não está em casa, como por exemplo o
vergalho,
orelha desidratada e ossos de nylon, como o
nylabone, que os cães costumam adorar!
Ofereça todos estes itens e opções de alimentação para o cão na sua presença e veja quais ele prefere. É importante estarmos atentos a um fato importante: em pouco tempo os estímulos desaparecem, tornando o ambiente monótono novamente, ou seja, o animal se habitua aos brinquedos e objetos. É necessário que se tenha muita criatividade e que se faça uma rotação de todos os itens utilizados para promover o enriquecimento, com um ou dois itens por dia.
Os passeios são essenciais para a saúde mental do seu cão
Apesar de sabermos que o passeio não consiste em um enriquecimento ambiental propriamente dito, ele é extremamente importante para a melhora da qualidade de vida dos cães, tão importante que se as pessoas tivessem noção de como um passeio diário devolve o equilíbrio ao cão, alguns tutores seriam capazes de passar o dia na rua com seu cachorro! Faça a experiência: programe a semana para passear pelo menos meia hora por dia (alguns animais requerem mais do que isso). Analise o comportamento do seu cão depois do passeio pelo resto do dia e no final da semana.
Quando decidimos adotar ou comprar um cãozinho, os passeios vieram no pacote. Eles ajudam muito na melhora da ansiedade de separação, principalmente quando são feitos antes do tutor sair de casa. O cão ficará mais relaxado e tranquilo depois de um passeio e poderá ficar bem menos ansioso quando estiver sozinho.
Outro animalzinho para fazer companhia para seu cão pode ser uma opção interessante, desde que seu bichinho seja sociável e aceite bem a presença de outro.
O treinamento (adestramento) ainda não é considerado, oficialmente, um Enriquecimento Ambiental, mas vale a pena citá-lo como uma forma de estreitar os laços entre dono e cão e de quebra ensina-se uma série de bons comportamentos que farão com que o animal possa aproveitar melhor a companhia do dono e das visitas. A grande diferença é a melhora na comunicação, que faz toda a diferença para que a relação seja a mais harmoniosa possível. Depois de uma sessão de treino o cãozinho fica cansado mentalmente e pode dormir por horas. É como quando vamos a um curso ou palestra e ficamos cansados mentalmente, mas muitas vezes nem levantamos da cadeira!
Para saber mais sobre Enriquecimento Ambiental, acesse os artigos:
Ideia de "brinquedo-petisco":
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Por: Mãe de Cachorro - Ana Corina
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Ansiedade de separação em cães: Tudo que você precisa saber a respeito! - Mãe de Cachorro Também é Mãe! http://www.maedecachorro.com.br/2011/07/ansiedade-de-separacao-em-caes-tudo-que.html#ixzz1UUnpn4gH
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