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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Bem-estar embrulhado com papel e fita


Símbolo de afeto, o presente ajuda a expressar sentimentos. E dar uma lembrança, está provado, ativa no cérebro as áreas ligadas a mecanismos de recompensa. Por isso, o gesto fala

por FABIANA PARAJARA
foto ALEX SILVA
prod. ALÊ RAVIZZA/TOQUE DE CAIXA

Fala direto ao coração e... traz prazer. Pesquisadores da Universidade do Sul da DinamarcaNew Scientist, revela que a visão do pacote aciona áreas de comunicação verbal, como o giro fusiforme esquerdo, usado na leitura, e o córtex frontal inferior, responsável por dar significado às coisas.

Para psiquiatras e psicólogos, esse é o retrato do afeto na massa cinzenta. “Presentear faz parte da natureza humana e é um gesto que dá tanto sensação de bem-estar a quem dá como a quem recebe”, diz a psicóloga Maria Cristina Dotto, da Universidade de São Paulo. O curioso: as respostas cerebrais são mais intensas quanto maior for a proximidade do objeto ofertado com símbolos de carinho. “Dessa maneira, uma rosa pode fazer muito mais efeito no cérebro do que um carro último tipo”, explica a psicóloga.

Para o neurocientista Jorge Moll, coordenador do Centro de Neurociências da Rede Labs-D’Or, no Rio de Janeiro, os presentes fazem parte da história da evolução humana. “Nós desenvolvemos comportamentos pró-sociais, isto é, que demonstram características de cooperação social e reciprocidade, para aumentar as chances de sobrevivência da espécie.” Para muitos especialistas, isso justificaria as reações de prazer observadas no cérebro.

Não é pelo fato de o hábito de presentear estar relacionado a sensações positivas que se deve cair na tentação de banalizá-lo. O psiquiatra Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental na Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, opina: “A recompensa material permanente, como a daqueles brinquedos mais baratos comprados por qualquer motivo, estimulam o prazer imediato e o materialismo, o que nunca é bom”. Segundo ele, no mundo moderno, o pacote bonito bem que poderia ser substituído por tempo. “É preciso arranjar alguns momentos para estar ao lado de quem a gente ama. Abraçar e beijar os filhos, dizer quanto eles são importantes não deixa de ser uma maneira de presentear e ser presenteado — com pacotes de carinho.” Fique claro: o que os cientistas dinamarqueses enxergaram como reação a embrulhos coloridos na verdade também aparece em outras manifestações que têm como pano de fundo a generosidade — o saber dar e o saber receber. “Há experiências mostrando respostas cerebrais muito parecidas em quem realiza trabalhos voluntários”, lembra Jorge Moll. “O engajamento em causas sociais, quando o indivíduo consegue doar um pouco de si mesmo, está relacionado não apenas ao bem-estar psicológico como ao próprio aumento da longevidade.” Em grande parte, isso acontece porque há uma redução do estresse quando o cérebro vivencia essas reações de recompensa. E, afinal, quem vive mais estressado tende a apresentar uma série de problemas de saúde.

Jorge Moll está entre os pesquisadores que já mapearam os efeitos da generosidade no cérebro. “Em nosso estudo, trabalhamos apenas com doações anônimas, ou seja, com gente que não pretendia impressionar a pessoa presenteada para ganhar em troca qualquer coisa, como reputação ou prestígio.” Junto com uma equipe de cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde, em Bethesda, nos Estados Unidos, ele demonstrou que as doações fizeram o córtex subgenual, muito ligado a sentimentos tão prazerosos quanto o da mãe que olha amorosamente para o seu bebê, funcionar intensamente. Então, ciente disso tudo, aproveite esta época do ano: conecte-se com as sensações de alegria e realização embutidos no presente escolhido com carinho. Ele é a sua forma particular de dizer o que sente pelos outros.
comprovaram algo que o filósofo Sêneca, contemporâneo de Jesus Cristo, já dizia há mais de 2 mil anos: “Muitas vezes, uma pequena oferta produz grandes efeitos”. Por meio de ressonância magnética, eles descobriram que a mera imagem de um embrulho bonito já desencadeia um turbilhão de reações cerebrais. O estudo, publicado na conceituada revista inglesa

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